Melancholic report

Já cansado, no fim de um dia de aparente Inverno, regressa a casa, os pingos de chuva preenchem aleatoriamente o vidro da camioneta, os pés apoiados no banco, com os braços enrolados nos joelhos e o queixo apoiado nas mãos, talvez por frio, não sabe. Só sabe que se sente bem assim.
Não ouve a chuva, não vê as cabeças anónimas que o rodeiam, não sente sequer o seu corpo. Todos os sentidos desistiram para a musica melancólica que saía dos phones. "You're beautiful..." Sente-se como o único objecto provido de alma num transporte com destino indeterminado, rumo a uma miragem.
Á esquerda, o sol vai dando o último aceno por trás do mar, por baixo o rio, e à frente Lisboa, fiel a si. Endireita-se um pouco, encosta a cabeça ao vidro húmido, a musica está a acabar, a viagem também. Restam-lhe apenas uns minutos de um momento só dele.
Despede-se daquele sonho, para logo a seguir acordar na realidade poluída.

João