sábado, março 25, 2006

Maria e David.

Escreveste-lhe a ultima carta ontem à noite, à luz das velas. Era uma carta escrita a sangue e lágrimas.Não sabias que nunca mais lhe conseguirias escrever. Não sabias que ias deixar de precisar disso e que um dia as palavras te iriam faltar, mesmo sabendo que ainda haviam mil coisas por dizer, mil perguntas por fazer, mil desculpas por pedir. Gostavas tanto dele. Estavas tão habituada à sua ausência e era disso que vivias.
Hoje foste ao jardim onde estiveram uma vez a beber um sumo e uma cerveja e acolheram-te bem. Estavas tão triste, tão em baixo, querias fugir e no entanto sabias que não podias. E de qualquer forma não conseguirias nunca fugir de ti mesma - sabes disso.
Então ganhaste coragem e olhaste o teu interlocutor nos olhos. Um perfeito desconhecido que te fez sentir em casa (uma sensação familiar, mas já nem te lembras bem desse tempo, nem queres lembrar). Uns olhos verdes claros, um rosto bonito e marcado pela vida. Ele passou-te o canhão para a mão como se já fosse habitual. Bebeste da cerveja dele sem pedir, como se fosse já um direito teu. Ele não te chateou com perguntas e sem falar demasiado soube reconfortar-te.

Tu chamas-te Maria.
Ele chama-se David.

(enquanto isso havia um punk completamente pedrado a dedicar-te canções na sua guitarra e na sua voz desafinadas.)


Framboise