sábado, março 04, 2006

Pessimísmo

As vesperas ansiosas acomulam-se, enquanto os olhos se cansam de olhar todos os dias os mesmos objectos, parados nos mesmos sitios, a dizer as mesmas coisas, vespera a vespera.
Objectos insignificantes, canetas abandonadas na mesa de cabeceira, folhas amachucadas que não sabem mais como sair da secretária, que se vai enchendo de pó com o passar das estações.
Vesperas ansiosas por partir, por deixar tudo como está e partir para onde não mais os olhos serão feridos por esta calma electrica, para onde a estrada não tem portagens, os caminhos não têm pegadas, e as cidades são feitas de terra.
Cada molécula por mim tocada ficará assim para toda a eternidade, influenciada pelo meu toque, afectada pela minha poluição, e isso é algo contra o qual nada posso fazer. Todo o mundo de que ja fiz parte, é como é em parte por causa de mim, e se eu não gosto dele, isso é em parte, mesmo que minima, minha culpa.
Daí vem a ansiedade de partir, de refazer o mundo, de o livrar do meu olhar.

"Todos os dias são vespera de não partir"

João