quarta-feira, maio 17, 2006

Aquele homem de 50 anos.

Apesar da barriga nota-se que é uma pessoa que se mexe com mais à vontade que o normal. Possuidor de uma enorme sensibilidade, mas também de uma língua afiada, não deixa escapar uma oportunidade para exibir a enorme piada que sabe ter. Costumava andar num carro bordeux cujos cinzeiros estavam todos a transbordar de beatas, até que este se avariou e passou a andar de comboio.
Imagino-lhe a vida. Deve-se ter apaixonado por um aluno e depois levou com os pés. Sofreu muito. Mantém um romance (pouco) discreto com um colega de trabalho que toda a gente (não) finge notar. Provavelmente vive numa apartamento caótico cheio de garrafas de vinho ou de gin por todo o lado, cinzeiros cheios, louça de semanas para lavar e chão por varrer. A cama será provavelmente vermelha, quem sabe se a colcha não é até de um veludo assim já meio gasto.
Chega a casa depois das aulas, deita-se no sofá a ler o jornal e a fumar, à espera que o companheiro (porque aos 50 anos chamar alguém de 'namorado' é fatela) chegue e vão jantar a uma tasca qualquer do seu bairro.

Provavelmente um destes dias tem um enfarte (fuma que nem uma chaminé) e haverá mais gente a sentir falta dele do que ele imagina. Vão sonhar com os dias em que o viam brilhar nos palcos ou das correções e conselhos que dava aos alunos. Até o aluno que lhe partiu o coração há-de sentir falta de ouvir o nome dele.

Framboise

(Como agora até professores têm conhecimento do blog, acho que é melhor avisar que de facto a maioria das histórias que escrevo para aqui são ficção, ou pelo menos suposições.)