sexta-feira, setembro 15, 2006

Summer's Almost Gone

Foi assim. Dias e noites. Muitos.
Noutro país, a princípio. Lembro-me de ficarmos encantados. Querer fotografar tudo. Pizzas deliciosas, como só existem ali. A esplanada agradável. Bom café. Tabaco a preço de ouro.
Lembro-me das chatisses com ela. Mas que importa isso agora?
Lembro-me de fumarmos rápido e às escondidas. E do Faisão. Lembro-me dos padres muito púdicos, que não gostavam dos meus ombros de fora, apesar dos 40 e tal graus. Calor exasperante.
Lembro-me de andar de gôndola. Lembro-me de fugir. Lembro-me do tipo do contrabaixo.
Lembro-me daquele jantar divino. De ir ver aquelas mulheres dançar e ficar com lágrimas nos olhos. Lembro-me de ficar a conversar na fonte. Lembro-me da fonte, tão linda, tão luminosa, e lembro-me da conversa, tão sincera.
Lembro-me de correr pelos prados dos Alpes e ver insectos por todo o lado e pensar 'foda-se, foda-se'. Lembro-me de tirar fotos parvas.
Lembro-me de cantarmos música portuguesa naquela aldeia, e ninguém perceber uma palavra. Lembro-me do cozinheiro, emigrante português, que nos ofereceu toblerones. Lembro-me dos olhos azuis dele.
Lembro-me daquela cidade suja. Lembro-me das pessoas estranhas que a habitavam.
Lembro-me de gostar do avião. Lembro-me da cara bela do hospedeiro. Perdão. Comissário de bordo.
Lembro-me das noites com ele e com ela, sentada nos passeios do bairro, de litrosa na mão, a cantar. Lembro-me de uma conversa estranha com um tipo ainda mais estranho, que nos falou das cores dos anjos e nos revelou um segredo sobre o Papa.
Lembro-me de ficar na janela a olhar o horizonte. Lembro-me de acordar e estar deitada na janela, e de quase cair com o susto.
Lembro-me da praia (eu que nunca gostei muito de praia) e de a adorar. Das rochas. Das espreguiçadeiras. E do Francisco. Lembro-me de lhe cravar tabaco e de o tratar por você, sempre à espera da permissão para o tratar por tu. Lembro-me do filho dele, loiro, aos caracóis, que me olhou com desconfiança. Lembro-me do carro do nadador salvador e de ele me deitar um olho de vez em quando. Lembro-me do 'Arrr arrr!'.
Lembro-me da água, tão fria, tão deliciosa e ondulada. Lembro-me de pôr a hipótese de aprender a fazer surf. Lembro-me de estar na brincadeira com os meus meninos. E lembro-me de tirar fotos com eles, na última noite.
Lembro-me de telefonar-lhe e de irmos para a praia à noite. E de ficarmos na conversa, de cerveja na mão e cigarro ao canto da boca. De passear por aqui. De discutir política, amor, a escola. De falar. E de estar em silêncio, por vezes.
Lembro-me de estar com o meu primo. De ficarmos sentados a falar, à entrada do prédio dele. Lembro-me de ficarmos a ver filmes, eu com a cabeça na barriga dele, a ver filmes, ora idiotas, ora daqueles que metiam medo. E lembro-me de ficarmos a ver os créditos do Silent Hill.
Lembro-me de estar em casa sem fazer nada, a pensar nas centenas de coisas que tinha prometido a mim mesma fazer estas férias, mas sem fazer nenhuma.
Lembro-me de pensar sempre que 'o tempo de aulas ainda está longe'.

É já 2ª feira.


A ouvir: The Doors - Summer's Almost Gone


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