domingo, novembro 20, 2005

Wonderland


Quando a Alice caí na toca do coelho encontra uma garrafa que diz 'Drink Me', e que a torna muito pequenina. E é assim que me sinto.
Bebi a garrafa quase de um só gole e fiquei pequenina, tão pequenina, que mal consigo que me vejam.
Pelo menos quem eu queria que me visse.

Não sei quando é que tudo isto começou. Pois tudo começou sem que eu me desse conta. Aos poucos foi aumentanto mas tudo o que eu queria era negar aquilo que estava à frente dos meus olhos.
Só que agora não é assim. Bastou uma noite, aquela noite, para que eu deixasse de ter sequer hipóteses de o negar. E foi ali, no meio da cerveja, da música rock e do fumo, que me apercebi de que muitas coisas que eu tinha como certas estavam erradas. E no fim, quando saí, estava à porta, sentada no passeio à espera, e começam os acordes de 'Knocking on Heaven's Door' dos Guns 'n' Roses. Era como eu me sentia...a bater à porta do céu, mas sem maneira de entrar. A saber que estava tão perto, e no entanto, a saber que nunca passaria dali. A ver o interior do céu pelo buraco da fechadura, mas sem poder entrar lá dentro, e a saber que ou me ia embora ou ia ficar para sempre presa àquela visão, pois nunca conseguiria entrar.
E de qualquer forma não é justo. Porque só tenho feito toda a gente à minha volta sofrer. E mesmo quando param de sofrer, eu continuo, pois a culpa quase me tolda a visão. E odeio sentir-me impotente, mas a verdade é que voltar atrás é praticamente impossível. De qualquer modo, de que me serviria? Quase de certeza que cometeria os mesmos erros. Só mesmo porque o prazer mais doce é a dor. O coração apertado faz-nos sentir vivos.
O problema é quando nos fartamos de sofrer. A única forma de pôr um ponto final é deixar de sentir. Nessas alturas apenas resta uma grande sensação de vazio, de branco, de um enorme espaço sem forma e isso faz-nos pensar que talvez não estejamos a viver.
Eu estive assim todos estes meses. Até que deixei entrar um pouco de incerteza, e o gelo, todo o gelo que me provocava este vazio começou a derreter lentamente. Não sei se é pior deixar que ele exista ou deixá-lo derreter por algo que nunca irá alcançar.
Sento-me às vezes no canto do quarto com alguma música triste e depois ponho-me a imaginar como seria começar tudo de novo noutro lugar, mas tenho medo, e de qualquer forma as oportunidades são remotas.

Se ao menos ele entendesse metade do que me vai na cabeça...


[não me apetece reler.]

Framboise

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Se ao menos mais d 3 pessoas percebem o que vai na cabeça de qualquer 1, metade dos problemas desapareciam.

Somos demasiado complexos e variáveis.

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2:19 da manhã  

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