sexta-feira, março 31, 2006

Viagens (2)


Prefiro as montanhas, o frio e as mantas. Praia, sol e roupa curta cada vez me repugnam mais.
Não me admiro que os povos destas culturas sejam mais doces e chegados. Com o frio que la está, so se safam com calor humano.

João

Viagens

Em tempos de crise so me vem uma palavra a cabeça: Tibete

João

quarta-feira, março 29, 2006

Simples

Emprestei a um amigo que está a estudar saxofone a pauta do Yesterday, dos Beatles.
Já ele me tinha falado de uma tal pauta de Coltrane capaz de trocar os olhos, e que a professora arduamente tocava.
Dias depois diz-me "Man, aquela cena dos beatles é tão simples !!, tem prai 4 notas e 2 ritmos !!".

E agora, qual deles o melhor compositor ?

João

segunda-feira, março 27, 2006

Arrasto

Chato, basicamente.
Deprimido, evidente
Provavelmente inútil
útil adereço.

Capa, carapaça, crosta
Qualquer algo
Altamente deprimente.
Obvio objecto
Dejecto,
Pisado e olhado.

Desolha,
Cultivando sebo
entre medo.
Enredo oportuno
Arrasto diurno.

João

domingo, março 26, 2006

Na rotunda

Na rotunda da normalidade vou dando voltas interminais sem ter qualquer ideia de quando e por onde sair.
Na rotunda da normalidade não ha Taxis nem Transportes públicos, so la entra gente dona de si, a gastar tempo sem o ter sequer.
Na rotunda da normalidade não ha fontes nem estatuas no meio, so um relvado inóquo, com uma placa a dizer "proíbido pisar a relva".
Na rotunda da normalidade não ha saída para avenidas nem qualquer outra estrada, quem sai, sai a pé, pelo passeio.
Na rotunda da normalidade não se pode parar o carro, há sempre um apressado atras de nós.
Na rotunda da normalidade não há opiniões, apenas o ruido de dezenas de rádios, todos sintonizados na mesma estação.
Na rotunda da normalidade há mais gente a entrar que a sair, mas surpreendentemente, nunca fica congestionada.

João

Cucu

Porque te escondes nas raizes neuronicas (neuroticas?) do meu pensar, se sabes que eu gosto de jogar as escondidas ?

João

No luck at all.

Framboise © 2006

sábado, março 25, 2006

Maria e David.

Escreveste-lhe a ultima carta ontem à noite, à luz das velas. Era uma carta escrita a sangue e lágrimas.Não sabias que nunca mais lhe conseguirias escrever. Não sabias que ias deixar de precisar disso e que um dia as palavras te iriam faltar, mesmo sabendo que ainda haviam mil coisas por dizer, mil perguntas por fazer, mil desculpas por pedir. Gostavas tanto dele. Estavas tão habituada à sua ausência e era disso que vivias.
Hoje foste ao jardim onde estiveram uma vez a beber um sumo e uma cerveja e acolheram-te bem. Estavas tão triste, tão em baixo, querias fugir e no entanto sabias que não podias. E de qualquer forma não conseguirias nunca fugir de ti mesma - sabes disso.
Então ganhaste coragem e olhaste o teu interlocutor nos olhos. Um perfeito desconhecido que te fez sentir em casa (uma sensação familiar, mas já nem te lembras bem desse tempo, nem queres lembrar). Uns olhos verdes claros, um rosto bonito e marcado pela vida. Ele passou-te o canhão para a mão como se já fosse habitual. Bebeste da cerveja dele sem pedir, como se fosse já um direito teu. Ele não te chateou com perguntas e sem falar demasiado soube reconfortar-te.

Tu chamas-te Maria.
Ele chama-se David.

(enquanto isso havia um punk completamente pedrado a dedicar-te canções na sua guitarra e na sua voz desafinadas.)


Framboise

New Age Ink

Deviamos andar com um teclado de bolso para quando a tinta da caneta acaba.
Afinal, isto é o século 21.

João

quinta-feira, março 23, 2006

Imperdível!

David Hasselhoff no melhor vídeo de sempre! Vejam aqui:

http://video.google.com/videoplay?docid=-720650682163363570&q=david+hasselhoff



Framboise

Gorro

Quero por aqui dar-vos a informação de que a minha faculdade desaprova, e toma inclusivamente medidas drásticas contra o relacionamento amoroso entre os seus alunos.
Caso se estejam a perguntar onde fui eu buscar tal ideia, a resposta é:
Na casa de banho.
Não, não tive esta ideia enquanto estava na minha casa de banho (embora todas as minhas boas ideias tenham sido elaboradas na casa de banho, ou seja, cerca de uma ou duas) a ideia é que é inspirada numa casa de banho da faculdade.
No departamento de Matemática (aproveito para dizer que é este o departamento onde tenho 80% das minhas aulas, pelo que me vejo obrigado a dispensar liquidos na casa de banho do mesmo) a zona dos lavatorios da casa de banho é unida com a das raparigas, o que nos obriga a lavar as mãos e arranjar o penteado ao lado delas (Usei o exemplo dos homens porque se falasse do que as raparigas fazem ao lavatório teria de enumerar os termos de toda uma linha de maquilhagem, que eu, obviamente, desconheço). Ora, toda a gente sabe que as pessoas arranjam-se em frente ao espelho para estar apresentaveis ao sexo oposto, mas é claro que fazer isto enquanto o respectivo sexo oposto nos olha com um ar curioso e repudiante é um pouco envergonhante, e obriga-nos a sair dali apenas com as mãos lavadas e o cabelo por arranjar.
Se um sexo não está apresentável ao outro, é impossivel que se achem atraentes, e por isso é de esperar que aqueles corredores pareçam uma corte do seculo 15.
E depois admiram-se quando eu ando de gorro o dia todo.

João

Perdemos.

Geralmente só nos damos conta que perdemos alguma coisa no momento em que precisamos dela.

Framboise

terça-feira, março 21, 2006

Poesia (3)

Antes a poesia era-me estranha, hoje (pelo que a sociedade indica, mais velho, com mais livros na cabeça, e portanto, mais sábio) generalizei, e são as pessoas que me são estranhas.

People are strange when you're a stranger
Faces look ugly when you're alone
Women seem wicked when you're unwanted
Streets are uneven when you're down

The doors - People are strange (ali ---------------------->)

João

Poesia (2)

Até ao 11º ano, e talvez um pouco do 12º sempre achei a poesia, especialmente os Lusiadas, e tudo o que de certa maneira se relacionava com a expressão lirica do mundo, uma seca. (Atenção, hoje continuo a achar o Lusiadas uma seca, bem como qualquer verso do Miguel Torga).
Hoje (já um homem composto, com pelos e tudo, alguns até a mais), acho que era realmente parvo nessa altura.
Não por achar a poesia uma seca, mas por não ter argumento para fundamentar tal opinião.
A ideia de mim próprio é qualquer coiso como "Epa! era mesmo idiota!".
Continuo a achar-me um Idiota, mas agora sou um Idiota com fundamentos, se hoje me perguntarem porque sou um idiota, saberei argumenta-lo, enquanto que em tempos que já la vão diria apenas "Idiota és tu !", terminando com uma careta. Ou talvez um "E tu és o rei deles!!".

João

Dia Mundia da Poesia

Dado que hoje se comemora (o uso do verbo "comemorar" não implica exactamente a acção correspondente, já que não conheço nenhuma comemoração deste dia, ou se a há, não foi decentemente divulgada, e portanto, mal comemorada) o dia mundial da poesia, achei por bem dedicar um (ou quem sabe, dois) versos a quem, por infeliz desatino com o destino, veio aqui parar.

Coxo fica o pensar
Ao pensar em quantos pensamentos
Sao efectivamente mal pensados.

E em quantos outros
Sao bem melhor pensados
Que os pensamentos gerados
Por este meu pensar

Por pensar este pensamento
Fico, por ser um ser pensante,
Pensativo,
E pensando nas cabeças
Capazes de muito boas ideias
Para um pensamento sobre o pensar.

Vou terminar agora com um chá
O pensamento que aqui foi apresentado.

(depois do chá)
O pensamento é um atrelado.
Um cancro
Que nao pode ser operado.
Muito menos escondido
Com perucas louras.



Cada vez se bebe menos chá.
Uma pena, na minha opinião.

João

Sonhos prolongados

Na noite passada aconteceu aquilo que eu mais gosto nos sonhos, que é modificar o que sentimos por alguém apenas pelo que aconteceu nesse sonho.
Quantas vezes ja não me chateei com amigos num sonho, para depois na realidade, consciente de que o meu sentimento de raiva não tinha cabimento nenhum, não me conseguir livrar dele, e sou como que obrigado a forçar o dialógo, para não parecer estranho.
Esta noite apaixonei-me por alguém que não tenho ideia quem seja, e que agora não me sai da cabeça.
A serio, apaixonei-me mesmo. A imagem não está lá, a razão não está lá, nem dialogos nem nada disso. Apenas um beijo de despedida, e um sentimento que durou o resto do dia.

João

segunda-feira, março 20, 2006

125 azul

Foi sem mais nem menos que me deu para arrancar sem destino nenhum.

Foi sem mais nem menos que ouvi esta musica e me apaixonei.
Quando é que se deixou de produzir boa musica em portugal ?
O meu palpite ? Big Show Sic.

João

domingo, março 19, 2006

Manipular o tempo

Eu e o meu co-blogger descobrimos uma das muitas utilidades dos cigarros (tenham em conta que eu fumo e ele não): manipular o tempo.

Se estamos à espera de alguém, acendemos o cigarro para adiantarmos a ausência dessa pessoa. Se esse alguém chega, acendemos o cigarro para que o tempo páre ali, naquele momento perfeito. Se esse alguém não vem, acendemos o cigarro para viajar no tempo e recordá-lo.
Se percebemos que ele nunca mais virá, acendemos o cigarro para adiantar o tempo até que apareça outro alguém.


(claro que o João falou disto de forma diferente, mas foi assim que eu vi as coisas.)

Framboise

sábado, março 18, 2006

Solidão

A solidão é engraçada. Todos se queixam do medo da solidão, do terror de estar só. Mas ninguem se lembra do terror ainda maior que seria não ter a oportunidade de estar só.
Tenho muito mais medo de não poder ter tempos apenas para mim do que so os ter.
Vocês conseguem imaginar sequer como seria a vida sempre com alguem ao lado ? Nem sequer um momento para fechar os olhos e ficar 5 min a pensar em rigorosamente nada ?
A solidão é preciosa.

João

I wonder if you're lonesome tonight...

Now the stage is bare and I'm standing there
With emptiness all around
And if you won't come back to me
Then they can bring the curtain down

Eu estou sozinho esta noite. Sozinho por querer apenas qualquer coisa. Sozinho por ter saudade de não sentir falta de nada.
Sozinho, mas não só.

Tell me dear, are you lonesome tonight ?

João

sexta-feira, março 17, 2006

Cómoda da vida (2)

Depois de um dia confortável, a zona debaixo da lingua fica de certo modo insaciada, e com o céu da boca aspero, como se tivessemos comido um diospiro verde.
Já para não falar na sede, que percorre cada poro como se tivessemos suado o dia todo, e agora que o fim do dia se aproxima, nem 2 nem 200 garrafões de água equilibrariam a desidratação que nos vai possuindo e enlouquecendo, no desejo de saber o que desejamos realmente, de apagar a puta da paranóia, que corroi e mata cada celula do meu pensar, e depois de apagada, conseguir pousar a cabeça na almofada, finalmente tranquilo.

João

quinta-feira, março 16, 2006

Cómoda da vida

Há dias cómodos. Sem nada de anormalmente bom ou mau.
Dias corridos como esperavamos, previsiveis se assim lhes quiserem chamar. Há quem lhes chame confortáveis.
Hoje foi um dia confortável.
Há quem tenha dias confortáveis a mais. A quantidade desses dias que alguem tem é inversamente proporsional ao seu interesse enquanto pessoa e á sua utilidade enquanto ser vivo.
Hoje foi um dia confortável. Amanhã esforçarme-ei (ou talvez não) para não ser.

João

quarta-feira, março 15, 2006

Gatos

Não sei bem qual o papel de um gato numa casa, e penso que nunca irei saber.
Se vivem uma vida independentemente dependente ou dependentemente independente.
É por esse mistério e por essa personalidade inócuamente letal que são bichos adoráveis.
Mas que so nos adoram se o merecermos.

João

terça-feira, março 14, 2006

Gente trignométrica

Breve introdução:
O seno é uma função dependente de um angulo, e varia entre os valores -1 e 1, passando por todos os valores entre estes (uma coisa assim).
A tangente é também uma função dependente de um ângulo, mas cujos valores variam entre numeros infinitamente negativos e numeros infinitamente positivos (uma coisa assim).

Feita esta introdução, ja posso dizer que, comparando uma função trignométrica com uma relação entre pessoas, eu sou definitivamente um Seno.
A imagem que eu tenho de alguem pouco varia, e tudo depende do meu ângulo de visão.
Há no entanto por aí muita tangente, e eu vou arriscar por defeito, cerca de 81% mulheres.

Isto bem desenvolvido era muito giro, mas ainda mais giro era eu não ter que me levantar as 6:40.
Isso sim era uma coisa pela qual eu não me importava nada de lançar confetis. Ou até quem sabe, umas serpentinas.

João


Sol

O facto de o dia ter corrido like crap, e isto ninguém me tira da cabeça, é unica e inteiramente culpa do regresso do sol. Mal acordei e lhe senti o cheiro pressenti que qualquer coisa não estava no sítio certo. Acabei por ter razão, essa coisa eram as minhas atitudes.

João

segunda-feira, março 13, 2006

Camadas

Hoje a noite fui ao cabeleireiro, o resultado, embora melhor que o esperado, não se pode bem apelidar de "bom".
O facto de ter sido o meu irmão a corta-lo é capaz de estar relacionado com isso.
Digamos que pareço uma cebola. Ás camadas.

João

Foda-se

Há dias em que a unica coisa que queremos fazer quando chegamos a casa é ir para a cama, adormecer, e no dia a seguir acordar no dia antes, para o podermos repetir e quem sabe, fazer as coisas decentemente.
Há dias em que deitamos estruturas abaixo...

João

Lets get lost

Let's get lost, lost in each other's arms
Let's get lost, let them send out alarms
And though they'll think us rather rude
Let's tell the world we're in that crazy mood

Já que estes versos colaram-se aos meus ouvidos, resolvi dar-lhes uso.

Vamos perder-nos no meio dos nossos olhares.
Deixa-me perder o norte ao revisitar o teu mundo, enquanto te perdes à minha procura.
E enquanto tudo o resto está perdido, apenas por não o procurarmos, ou por não querermos sequer saber onde está.

(vou-me agora deitar, cheio de pena por não ter encontrado a musica para a por a reproduzir ali --------> )

João

domingo, março 12, 2006

Devil in disguise



"You look like an angel
Walk like an angel
Talk like an angel
But I got wise
You’re the devil in disguise
Oh yes you are
The devil in disguise"

Devil in disguise . Elvis Presley

Livres

Encontrar-te à saída do velho cruzamento entre a amizade e a solidão, dar-te boleia até ao barco sem rumo, que nos espera no porto da cidade efémera, para acenarmos ao mar, livres e esfomeados, a navegar contra o vento, mas ao sabor do destino.

João

sexta-feira, março 10, 2006

Cheiros da vida (2)

Continuando na historia da estrada da vida, lembrei-me que há dias em que a estrada continua a nossa, o carro continua o nosso, mas o condutor é alguem que não nós.
Isso nota-se naqueles dias em que, embora o sono mate, a vontade de ficar na cama ocupe 99% das nossas vontades, e temos consciencia que num outro dia qualquer teriamos ficado quentinhos e evitado o suor de uma aula teórica, levantamo-nos, fazemos tudo o que queriamos fazer em 20 min, e que normalmente demora 40, e chegamos prontos e fresquinhos, até corremos para apanhar o autocarro!
Ou nos dias em que por uma vontade que não a nossa, recusamos um vicio ou um habito que ja tinhamos desistido de evitar.
Ou até os dias em que aquelas tarefas tão basicas e usuais se tornam algo tão complicado como o mecanismo de sintaxe de programação em C (horroroso, ja agora).
Não me digam que nunca vos aconteceu...

João

quinta-feira, março 09, 2006

Beatrice e Marie

[sinopse...a desenvolver.]


Marie e Beatrice já tinham tudo planeado. Mal os pais de cada uma saíssem para o trabalho, encontrar-se-iam no grande carvalho no centro da aldeia.
Eram nove horas da manhã quando se encontraram. Marie trazia o cabelo apanhado em duas tranças e um vestido com flores cor-de-rosa. Beatrice tinha o longo cabelo negro solto sobre os ombros, e trazia um vestido negro.
Marie pegou na mão de Beatrice e disse: 'vem comigo'.
Foram até à estação de comboios da velha aldeia. Maria comprou dois bilhetes que iam dar a Paris.
-O comboio só parte daqui a duas horas! - disse Beatrice.
-Assim nunca vamos poder sair daqui!! Se nos apanham vão fazer perguntas...
-O melhor é irmo-nos esconder no bosque durante um bocado, antes que nos encontrem.
E lá foram as duas de mãos dadas para o meio do bosque, à espera que o tempo passasse. Beijaram-se e amaram-se entre flores e animaizinhos. Quando olharam para o relógio, faltavam cinco minutos para o comboio partir. Pegaram nas malas e correram o mais que puderam, e lá entram no comboio no preciso momento em que as portas se estavam a fechar.
-Tens a certeza de que queres fazer isto? - perguntou Beatrice.
-Claro que sim! Porquê? Queres voltar para casa?
-Claro que não! Quero ficar contigo!! Para onde tu fores, eu vou...
Durante muito tempo ficaram a olhar a paisagem que se ia modificando e ia ficando cada vez mais urbana. O comboio apitou e foi parando lentamente. Tinham chegado ao seu destino.
Pegaram nas malas e saíram do comboio. Olharam à volta, nunca tinham visto algo tão grandioso. Comeram umas bifanas numa barraquinha junto ao rio e passearam durante muito tempo. Por volta das seis da tarde o sonho começou a desvanecer-se.
-O sol vai começar a pôr-se daqui a bocado e não temos onde dormir...- disse Beatrice, com um ar desolado.
-Vamos alugar um quarto.- acalmou-a Marie.
-Mal temos dinheiro!!!
-Chega para uma noite. E amanhã arranjamos trabalhos.
-Tenho medo...
-Não tenhas. - e abraçou-a com ternura.
Sabiam que não podiam ficar em grandes hotéis pois o dinheiro era pouco, mas lá encontraram uma casa de uma velha senhora que alugava quartos e ali ficaram. O quarto era bonito, decorado num estilo muito antigo. Ficaram ali e acordaram bem cedo, vestiram-se com as suas melhores roupas e foram à caça de emprego...
Por sorte, arranjaram trabalho no mesmo sitío, um café novo, muito 'in', muito chique. 'Vocês são bonitas e ainda me vão trazer mais clientes. Mas vejam lá, não façam disparates, senão ponho-vos na rua em dois tempos', disse-lhes o dono do café, um gordo de bigode na casa dos quarenta.
Começavam no dia seguinte, por isso, depois de lerem e assinarem os contractos, foram passear pelo Louvre, tiraram fotografias junto ao Arco do Triunfo, comeram grandes crepes num café nos Campos Elísios...e enquanto comiam esse crepe, Beatrice (sempre a mais ajuizada) começou a pensar nos pais.
-Não achas que lhes devíamos telefonar?- perguntou, por fim.
-A quem?
-Aos nossos pais, obviamente.
-Não, porquê?
-Porque se for preciso põe a policía à nossa procura e a nossa cara aparece estampada nos jornais.
-Eeeeerrrrm...se calhar tens razão. Mas eu não tenho coragem.
-Eu ligo aos meus pais e digo para avisarem os teus.
-Que lhes vais dizer?
-Que fomos para muito longe e vamos trabalhar num café.
-E se eles perguntarem quando voltamos?
-Dizemos que só voltamos daqui a uns anos.
-Está bem.
Saíram da esplanada e entraram no café, fizeram um gesto ao empregado e Beatrice pegou no telefone. Depois de muito tocar, ouviu a voz do pai.
-Pai...
-Beatrice!!! Estamos tão preocupados! E os pais da Marie! Onde estão??
-Estamos muito longe. E amanhã vamos começar a trabalhar num café. Não se preocupem connosco, está tudo bem.
-Porque é que fugiram sem avisar? E onde estão????
-Porque queríamos mudar de vida e...bem, onde estamos não interessa. Fica descansado. Com dezassete anos já sabemos tomar conta de nós. A Marie manda beijinhos para vocês e para os pais dela. Adeus!
E desligou.

Os dias foram passando, trabalhavam no café, depois iam jantar a algum lado...pagavam-lhes bem, e de vez em quando lá iam jantar a algum restaurante mais chique, ou compravam um vestido mais caro...
À noite enfiavam-se em bares ou então, se não estavam com humor para isso, iam passear pelas margens do Sena. Depois voltavam para o seu quartinho na casa da velha senhora, e se estavam muito cansadas adormeciam, mas a maior parte das vezes ficavam a conversar no escuro, e muitas vezes faziam amor.
Havia nelas uma sensualidade inocente que não se encontrava em mais ninguém à face da terra.
Por vezes discutiam, mas logo a seguir faziam as pazes. Não conseguiam viver uma sem a outra.
Às vezes lembravam-se da aldeia, recordavam momentos lá vividos, os pais (com quem nunca mais haviam falado), os amigos, mas esse mundo já estava tão distante como o céu do mar. Lembravam-se das coisas vagamente, envoltas num manto de névoa, como se tivesse sido um sonho. Muitas vezes sentiam saudades, mas nunca puseram em causa a hipótese de voltar.
De vez em quando passavam a noite fora, na casa de algum rapaz meio bêbedo arranjado nalgum bar escuro, e a que ficava de fora voltava para casa sózinha, morrendo de ciúmes.
Até que um dia aconteceu o pior.

Beatrice e Marie tinham ido a um bar, e Marie tinha dicidido qual era a 'presa' daquela noite. Beatrice estava cansada e disse-lhe que ia para casa. Marie ficou mais algum tempo a enfeitiçar a sua 'presa', um tipo loiro, por volta dos vinte anos.
Marie foi para casa dele.

Beatrice acordou no dia seguinte, tomou um banho, engoliu um bolo a correr e foi para o café. Passavam-se as horas e Marie não aparecia. Até que apareceu a polícia.
Marie tinha sido morta na noite anterior, esfaqueada cerca de quinze vezes e deitada ao rio de seguida.
Beatrice não queria acreditar. Mas mesmo assim reuniu todas as suas forças e organizou um funeral. Sabia que Marie queria ser cremada e foi isso que fez.
Não telefonou aos seus pais ou aos de Marie. Sentia-se culpada por toda aquela loucura, não devia ter dado ouvidos às loucuras de Marie. Se não lhe tivesse dado ouvidos ainda estariam na aldeia felizes, poderiam amar-se às escondidas no bosque, comer frutos silvestres vindos do seu meio natural...
Mas agora era tarde demais.
Deitou as cinzas no Sena.

Durante anos sentiu-se em baixo. Conheceu um homem de trinta anos chamado Pierre, com um charme irresistível, que fumava cachimbo e entregava-se à bebida frequentemente. Foi viver para o apartamento dele e começou a beber. Perdeu o emprego. Passava horas a vaguear pelas ruas, perdeu a beleza de outrora. Discutia frequentemente com Pierre e um dia pegou nas coisas e saiu do apartamento dele.
Não tinha para onde ir e o dinheiro era pouco. Sentiu-se mais infeliz que nunca. Não podia sequer beber, pois ficaria sem dinheiro e podia precisar dele para outras coisas.
Deixou-se dormir num banco.
Quando acordou,a ressaca de todos aqueles meses de angústia passou e sentiu-se mais sóbria que nunca. Só tinha duas hipóteses. Ou continuava em Paris e tentava arranjar um trabalho, ou voltava para casa.
Aos 27 anos era um farrapo.
Aqueles dez anos vividos em Paris tinham-na transformado para sempre. Os primeiros seis anos, passados na companhia de Marie, tinham sido maravilhosos, de uma loucura inimaginável, uma montanha russa. Os últimos quatro anos, desde a morte de Marie, tinham-na transformado numa alcóolica triste e sem vontade de viver.
Sabia que se continuasse em Paris acabaria por descer ainda mais baixo na sua decadência. A dor que sentia era demasiado grande para conseguir ultrapassá-la sózinha. Por isso entendeu que o melhor era voltar a casa.

Foi despedir-se de Paris, deu uma volta pelas margens do Sena, foi até à Torre Eiffel, passou por baixo do Arco do Triunfo, comeu um crepe no café dos Campos Elisios onde se tinha sentado com Marie na primeira vez que ali tinham ido.
Depois, foi até à estação de comboios e comprou um bilhete que a levaria de volta a casa.
Passou a viagem a dormir, até que o comboio apitou e Beatrice acordou. Saiu do comboio. Eram 2h da manhã. Inspirou o ar fresco do campo. Correu até à porta de casa e quando ia para tocar, a sua mão deteve-se. Que dizer aos pais? Que tinha fugido para viver com Marie mais livremente, que Marie tinha sido morta por um serial killer, e que devido ao desgosto se tinha entregado à bebida?
Não, sabia que não podia dizer isso.
Mas também não podia mentir. Os pais mereciam a verdade.

Tirou da mala um papel e uma caneta que outrora pertencera a Marie. Escreveu o seguinte recado: 'Queridos pais, espero que estejam bem. Amo-vos muito. Eu e a Marie estamos bem, continuamos muito amigas e vamos ficar juntas para sempre. Um beijo. Sejam felizes por mim...com muito amor, Beatrice'.
Pôs o bilhete na caixa do correio. Deixou a mala à porta de casa, correu pela noite dentro, as lágrimas a correrem-lhe pelo rosto. Entrou dentro do bosque. Olhou com saudade o sitío onde tinha amado Marie pela última vez antes de saírem da aldeia. Correu até chegar ao rio que passava pelo meio do bosque.

Atirou-se.
E acordou com Marie a seu lado.

Cheiros da Vida

Como todos sabemos, a vida não é uma linha recta. E é por isso que o segredo está no olfacto, para que lhe possamos sentir o cheiro e seguir o rasto (da vida), que não é propriamente previsível.

João

quarta-feira, março 08, 2006

I get along without you very well

I get along without you very well
I’ve forgotten you just like I should
Of course I have,
Except to hear your name
Or someone’s laugh that is the same
But I’ve forgotten you just like I should

I get along without you very well
Of course, I do
Except perhaps in spring
But I should never think of spring
For that would surely break my heart in two

No final, o que interessa mesmo é continuar sem atrasar o trânsito. Mesmo que de vez em quando o carro vá abaixo.

(So tenho pena de não ter encontrado a musicas na voz de Chet Baker, que, como o sr JPC diz: "A voz androgena de Chet Baker é a prova viva da existencia de deus".)

João

terça-feira, março 07, 2006

Insónias Paranóicas

No decorrer de mais uma insónia carregada de algoritmos sem nexo, típica de dias em que, em vão, me deito as 21:30 para tentar dormir umas boas 10 horas e acordar fresquinho (nunca funciona, às 23:00 ja estou disperto que nem uma gata em dia de cio), os dedos percorreram o caminho do quarto até às arestas do teclado para nelas tentar encontrar a resposta à geral paranóia que afecta qualquer um de vós (nós), e que muitos outros dedos certamente ja tentaram encontrar, escusado será dizer, sem exito.
A paranóia é a razão por que ficamos obcecados pelo sorriso de uma rapariga que nem sequer conhecemos, ou por que de repente nos esquecemos se se escreve "pelo" ou "pe-lo", e temos de ir ao dicionario, timida e vergonhosamente, confirmar o que acabámos de escrever, ou por que de vez em quando nos esquecemos de ligar o esquentador antes de ir tomar banho, quando o fazemos todos os dias, ou por que continuamos a fumar a merda dos cigarros sabendo que não serve para nada, ou até por que, depois de passar por ele todos os dias, numa chuvosa quinta-feira la nos apercebemos que a sua vida é uma merda, e lhe damos os trocos que acomulam mofo no bolso do casaco. A paranóia é aquele bichinho com vida própria escondido nos confins da nossa existência que nos leva a fazer coisas sem sentido aparente, e a imaginar que há qualquer coisa nesta vida e neste mundo, qualquer conspiração, que por muito que tentemos nunca nos aproximaremos sequer do seu significado. Ela é o que nos diferencia, é o que nos separa de máquinas, é o livre-arbitrio do nosso consciente que vai contra a nossa própria vontade, é aquilo que não serve para nada, e sem o qual não servimos nós para nada.
Paranoia é o que nos leva a levantar à 1a da manha sem saber bem porquê, e acabar a escrever algo como isto.

(Já agora, abençoado o momento em que me resolvi levantar do calor da cama, descobri a 5 minutos que tenho as propinas 2 dias em atraso, e a inscrição congelada)

João

segunda-feira, março 06, 2006

Purificação

Hoje, no caminho matinal para a faculdade, apercebi-me que tinha acordado com uma noção estranha das pessoas e das relações e importâncias, como se todos os pre-conceitos, ou até mesmo conceitos tivessem descolado da minha cabeça e entrado em orbita num espaço proximo, onde não os podia tratar e remexer, apenas observar (não tardei em comunicar isto a quem de melhor sabe interpretá-lo).
Bem de mim se fosse loucura, mas penso que é apenas cansaço e evolução.

João

sábado, março 04, 2006

Eu queria...

...escrever sobre ele. Queria dizer tantas coisas! Mas as palvras tendem a não sair. Parece que ultimamente tive que me calar tantas vezes que, agora que podia falar, as palavras deixaram de querer sair.
Queria escrever sobre aquele sorriso contagiante, aquele humor irresistível, aquela pose inconfundível, aqueles olhos expressivos mas não consigo.

Fiquem então com o meu silêncio.


Framboise

Pessimísmo

As vesperas ansiosas acomulam-se, enquanto os olhos se cansam de olhar todos os dias os mesmos objectos, parados nos mesmos sitios, a dizer as mesmas coisas, vespera a vespera.
Objectos insignificantes, canetas abandonadas na mesa de cabeceira, folhas amachucadas que não sabem mais como sair da secretária, que se vai enchendo de pó com o passar das estações.
Vesperas ansiosas por partir, por deixar tudo como está e partir para onde não mais os olhos serão feridos por esta calma electrica, para onde a estrada não tem portagens, os caminhos não têm pegadas, e as cidades são feitas de terra.
Cada molécula por mim tocada ficará assim para toda a eternidade, influenciada pelo meu toque, afectada pela minha poluição, e isso é algo contra o qual nada posso fazer. Todo o mundo de que ja fiz parte, é como é em parte por causa de mim, e se eu não gosto dele, isso é em parte, mesmo que minima, minha culpa.
Daí vem a ansiedade de partir, de refazer o mundo, de o livrar do meu olhar.

"Todos os dias são vespera de não partir"

João

sexta-feira, março 03, 2006

Have you ever seen the rain ?

Esta é uma das musicas que me lembra a infância, em que o meu pai ouvia no sotão ou tocava-me na viola, juntamente com muitas outras, Doors, Animals, por aí fora, coisas do tempo dele. Alias, coisas intemporais.
Hoje lembrei-me dela, já que choveu, e eu, estando doente, não pude ir la fora ver a chuva.

I want to know, have you ever seen the rain comin’ down on a sunny day?


João

quinta-feira, março 02, 2006

Mundo ao contrário

Hoje de manhã bebi um chá e fiquei mal disposto.
Logo a noite, antes de me deitar, como uma tangerina, para ver se passa.

João

Piaf

Pequena francezinha que tem a habilidade de me fazer perceber tudo o que diz, sem entender uma palavra de francês.

Edith Piaf - La foule ( ----------------------------> )

João

Idiotas

A pior invenção de sempre e para sempre é, sem sombra de dúvidas e margem para manobras, o despertador.
É o maior atentado a liberdade que esta civilização alguma vez presenciou. O principal causador do regime militar do ansioso e assustado dia-a-dia social.
A sério, digam-me, alguma vez um despertador vos fez feliz ?
Sonho com uma sociedade futura em que ninguem chega atrasado, porque horas de chegada são uma coisa que simplesmente não existe, uma pessoa apresenta-se quando se sente apresentável. As pessoas dessa tal sociedade olhariam para a nossa civilização de agora com repúdio, enquanto pensariam "Meu deus! estes gajos eram obrigados a acordar cedo, que idiotas!".
Realmente, que Idiotas.

João

Tu e eu

As relações são como um mapa de estradas.
No nossa, a Rua da Paixão não passa de um beco sem saída, e a Avenida da Amizade acaba exactamente onde começa.
Quero com isto dizer que essa paixão não vai para lado algum, e a amizade não tem fim.

João

quarta-feira, março 01, 2006

Tadito...

Quando num dia, cerca de 70% das coisas correm mal, um gajo ainda tolera, porque a companhia compensou na totalidade o dia azarado. Quando no dia a seguir a esse dormimos 4 horas, temos uma torneira imparável em vez de um nariz, ficamos 2 horas sem fazer absolutamente nada, à espera de um estupido autocarro porque perdemos o do "12:10" por causa de uma estupida professora que faz lembrar o capuchinho vermelho, e que eu não me importava nada de ser o lobo mau, so para poder fazer parte da historia em que o capuchinho vermelho é comido vivo... continuando! A cabeça palpita de dor a cada pulsação, os olhos pedem que eu os feche, até amanha, o frio trespassa os ossos, mas não afecta a pele. A sesta, que costuma ser útil para recomeçar o dia, não serviu para mais do que me deixar um zombie com insonias, com pensamentos em tornado a destruir a minha bem organizada memória. Não podiam faltar os problemas informáticos, com tudo o que pode correr mal, a correr de facto mal. Labios secos, cabelo intratável, dentes do ciso a romper como se não ouvesse amanhã, com respectivas dores a não se deixarem esquecer, e ainda so falei dos males físicos, não me deixem começar a lamentar o que atormenta esta pobre cabeça...
Resumindo, quando dois dias seguidos nos fazem pensar em quão sortudo é um político ou um artista de circo, algo não está bem

João